As eleições presidenciais de 2022 ocorreram num clima de conflito e forte polarização no Brasil. Se transições de governo já costumam trazer dúvidas a empresários e investidores, o que dizer de uma transição que acontece em um país dividido, com o candidato vencedor conquistando o cargo por uma margem inferior a 2%? O que isso representa para o empreendedorismo e as empresas do país?
Uma matéria escrita pelo colunista de relações exteriores da revista TIME, Ian Bremmer, apontou que o novo presidente encontrará um Brasil diferente do que havia governado de 2003 a 2010. Com uma economia muito mais fraca do que a de seus governos anteriores.
Se em sua primeira gestão ele lidava com um boom para exportações de commodities que colaboraram para encher os cofres do governo, agora a economia em desaceleração da China afeta os exportadores brasileiros. Além disso, a inflação em 9% deixa a população com um poder de compra muito reduzido.
Outro ponto importante a se considerar é que ele deve trabalhar com um congresso hostil, já que apoiadores de seu adversário conquistaram o maior número de cadeiras e sua agenda faz grande resistência à oposição.
Esse clima de economia frágil e hostilidade política desperta uma série de questões: como o novo presidente vai amortecer golpes econômicos sem aumentar os impostos a ponto de prejudicar o crescimento econômico do país? Como ele vai incentivar investidores? Como ficarão as empresas em seu governo?
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Pensando nessas angústias que afetam gestores e empreendedores por todo o território nacional, tentamos aqui analisar as perspectivas de negócios que virão pela frente.
Como mudanças no governo afetam as empresas?
A transição de governo, em qualquer situação, tem o poder de impactar empresas. Afinal, governos estabelecem regulamentos e políticas que as orientam, como regras trabalhistas, salário mínimo, entre outras questões.
Por exemplo: medidas governamentais podem afetar o preço do combustível. Consequentemente, afetam a precificação de produtos transportados em todo o território nacional. E, se estivemos diante de uma população sem poder de compra, isso pode significar um cenário extremamente negativo para empresas.
De outra feita, tomadas de decisão eficazes podem colaborar com o aumento do poder de compra, propiciar bons momentos para investir e aumentar o poder de compra do cidadão brasileiro.
Valorização da moeda e espaço para investimentos
O resultado das eleições, mesmo que o novo presidente não tenha assumido o cargo, ainda, já gerou um efeito positivo no valor do real. As ações brasileiras que devem se beneficiar de sua presidência subiram depois que ele venceu o segundo turno.
Não apenas o real se valorizou até 2,7% (5,1553 por dólar), como empresas de educação e construtoras que atendem brasileiros de baixa renda e varejistas terão impulsionamento em seus negócios. O chefe de Estado deverá aumentar o financiamento para a educação, dando um impulso às empresas.
Para ter uma ideia do efeito que o resultado dessas eleições traz, podemos observar que a varejista Lojas Renner somou 6,9%, uma vez que Lula buscará reforçar a ajuda aos pobres, aumentando seu poder de compra.
Como o presidente eleito enfrentará um país dividido e um congresso dividido, é bem improvável que o novo presidente realize a versão mais radical de sua política esquerdista. Nesse sentido, investidores podem ficar otimistas com as ações brasileiras.
Se por um lado empresas do varejo e consumo tiveram anos complicados com a alta taxa de juros e o aumento da inflação, que afetaram o poder de compra dos consumidores, agora elas podem se beneficiar com o estímulo ao crédito, o investimento em educação superior, dentre outras iniciativas.
Para o CEO da Edanbank, Eduardo Silva, se o governo realmente levar a cabo a reforma tributária e administrativa e tomar outras medidas, é esperado que o real valorize até o final de 2023 (tendendo a R$4,50), a inflação caia, com a taxa Selic entre 10 e 11% e o país tenha um crescimento de até 3%.
Mudanças favoráveis para o mercado
Analistas políticos e econômicos observam que a escolha de um vice-presidente que governou como um centrista favorável ao mercado, sendo uma figura respeitada na comunidade empresarial, também pode ser uma vantagem para os negócios. Ele terá um papel importante no governo para manter uma boa relação entre empresários e políticos.
Questões ambientais e iniciativas “verdes”
Se de alguns anos para cá vimos a economia sustentável ganhar espaço e gerar impacto positivo nas organizações, com o novo presidente a questão do meio ambiente pode ganhar mais força, já que ele prometeu reduzir o desmatamento a zero e estabelecer novas metas de emissões.
Para o professor de História da América Latina da Brown University, James Green, a vitória de um candidato de esquerda pode significar um retorno às políticas para salvar a Amazônia. Em seu discurso de vitória, o presidente eleito voltou a se comprometer com o combate às mudanças climáticas e o desmatamento, questões abandonadas durante os últimos quatro anos.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o desmatamento na região atingiu um recorde histórico no primeiro semestre de 2022, tendo sido 80% maior do que o mesmo período em 2018, antes do atual presidente assumir o cargo.
Para empresas que aderiram a iniciativas mais sustentáveis, seja na redução do uso de papel, na reciclagem de lixo, na conscientização dos colaboradores, pode ser uma chance de melhorar a imagem perante o consumidor.
Conclusão
Embora a política brasileira esteja enfrentando um momento de forte polarização e haja muito receio quanto ao futuro da economia brasileira, cientistas políticos vêm mostrando um ambiente de negócios positivo, ainda que reconhecendo as dificuldades que terá que contornar nos próximos anos.
Para muitas empresas, parece haver uma expectativa de aumento nas vendas à medida em que a população recupera o poder de compra. Para investidores, um cenário favorável para novos investimentos, já que estudiosos apontam para um possível crescimento econômico já no primeiro ano de governo.
Seja como for, nenhum gestor pode deixar de lado a necessidade de realizar análises de mercado antes de tomar decisões. Com planejamento, estudo e decisões bem informadas, é possível, sim, trilhar caminho para o sucesso.
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